segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Autonomia

Mundo, vasto mundo, se me chamasse Raimundo seria peão, pra tocar boiada.
Não há espetáculo mais belo nessa terra do que o encontro de uma boiada de várias centenas, milhares de animais guiados por um grupo de peões, imutavelmente constituídos. O comissário segue à frente, negocia as etapas, comercializa o rebanho. Junto à ele segue o ponteiro, que com seu berrante avisa os companheiros sobre paradas, travessias, obstáculos. Os guias variam de acordo com o tamanho do rebanho, colocam-se à frente e aos lados, certificando-se que todo rebanho esteja em condições de seguir a caminhada enquanto o chave vai na retaguarda. O culateiro vai mais atrás, cuidando dos bezerros e enfermos, que não conseguem acompanhar a tropa.
            Todo fim de tarde, após ter caminhado dezenas de quilômetros, o gado pára à beira da estrada onde se alimentam do pasto, descansam e são tratados pelos peões. Dormem sob as estrelas, sem abrigo, em noites que, muitas vezes são frias e  - apesar do grande número de indivíduos – solitárias. Todos os dias a rotina é repetida, sempre conduzidos, todos no mesmo rumo: o abatedouro.
            Agora fico aqui imaginando, são milhares de bois, e pouquíssimos peões. Cena realmente maravilhosa seria se cada boi se visse como parte da boiada e, cansado do abatedouro cotidiano, botasse os peões pra correr, escolhendo então, quais o pastos que irão percorrer.
            Eta vida de gado! Eta povo marcado! Povo feliz?

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