sábado, 19 de março de 2011

O agricultor de fábulas


Segue o agricultor de fábulas, sobre seu Pegasus dourado.
Segue sem tempo, caminhando sobre nuvens
Joga sementes de vento sobre o ar.

A Quimera da civilização o persegue sem que ele se dê conta
Espreita-o por todo o caminho, perturba a realidade
Faz os piores pesadelos parecerem os mais belos sonhos.

O agricultor segue sem perceber a emboscada que o aguarda
Já é prisioneiro, mas não o sabe. É escravo e não se importa
Perde seu tempo semeando de nada o futuro.

-Acorde senhor agricultor, ou será devorado – grito eu
Sou ignorado, a fábula parece inabalável perante meus esforços
A quimera aproxima-se cada vez mais, e minhas forças acabaram

-Decifra-me ou devoro-te – disse a quimera, que nesta hora pintou-se de esfinge
O sono acabou, é tarde demais. Não há o que fazer...
Lágrimas de sangue cobrem meus olhos.

Minha dedicação será inútil?
Por que não consegui te acordar até agora?
Será que você – sábio agricultor – terá que acordar sozinho?

Enfermeira, costure a minha testa
E coloque para dentro
A consciência que me resta!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Panegírico à Loucura.

Era uma vez um exército Azul, que marchava todos os dias pela cidade Azul.
Marchavam de cabeças baixas, com seus capacetes azuis, seus uniformes azuis, seus sapatos azuis, pensamentos azuis, e sorrisos amarelos.
            Deixavam seus filhos azuis em escolas azuis onde professores azuis ensinavam às crianças todos os tons do azul. Durante a tarde as solitárias crianças azuis passavam seu tempo em frente à telas azuis que lhes mostravam sempre a mesma beleza do mesmo azul. A noite um azul cansado tomava conta das casas azuis e os pais - embriagados de cerveja azul - irritados, batiam em suas mulheres azuis e em seus filhos azuis. Em seguida todos dormiam em suas camas azuis. A exaustão do azul era maior que a carência de outras cores.
            Um dia, o Soldado Venceslau, ao se atrapalhar com a marcha, escorregou e foi de cabeça no chão. O desmaio foi inevitável. Todos os outros soldados azuis ignoraram o ocorrido, afinal de contas, era um pecado mortal interromper a marcha cotidiana.
            Venceslau levantou-se, e todos perceberam em seu olhar um colorido diferente, mas ninguém disse uma única palavra, seguiam marchando. Voltando para casa, Venceslau vestiu um paletó amarelo, uma calça verde, chapéu cor de rosa e tornou às ruas. Saiu em uma dança púrpura, com piruetas de arco-íris e cantando palavras de amor num vermelho intenso e único.
            Ao ver aquela atitude todos se impressionaram muito, um burburinho tomou conta da cidade, muitos sem entender o que ocorria criticavam-no e alguns passaram a imitá-lo. O governo azul apressou-se em tomar providências, dizendo a todos que se tratava de uma doença extremamente contagiosa que podia causar a morte a quem tomasse contato com os coloridos, além de danos à economia.
            As pessoas se reuniram e passaram a trancafiar os coloridos em insalubres calabouços azuis, com ratos e comida azeda azul. Diziam tratar de um caso de loucura - uma doença nova - e Venceslau foi o primeiro a ser exterminado em favor da saúde pública. Logo vieram outros. E mais outros. Até que todas as cores se acabaram.
            Muito estranhos esses habitantes da cidade Azul. Chamam de loucura o que eu chamo de liberdade…