Cara Frigga, mãe de todos os homens.
Se me neguei aos festins de Baltazar, não foi por desrespeito ou por mera rebeldia infundada.
Se o fiz, foi por que onde vês um palácio, vejo os que o construíram sem ter onde morar; bibliotecas onde quem às construiu mal sabe ler, roupas confeccionadas por quem não tem o que vestir; o agricultor esfomeado.
Onde vês salário, vejo um homem que trabalha e outro – que sem fazê-lo – rouba-lhe a maior parte dos frutos deste mesmo trabalho. Onde há um ladrão ou vagabundo vejo a fome e o desespero; Onde há o senhor, vejo escravos.
Onde vês um fidalgo a usufruir de sua riqueza e dizes “ele trabalhou para isso” penso em todos os homens que se submetem – pelo menos oito horas por dia – a manter a riqueza deste. Estes não trabalham?
Onde há miséria, vejo injustiça; onde há governantes vejo oportunismo; Onde há o rico, vejo o miserável; Onde há boa vida vejo a morte.
Quando me dizes que não tenho ambição, pense no que dizes. Para você, um homem de ambição é aquele que almeja uma vida de abundancia, conforto e segurança para si e para sua família. Pois te digo que, de fato, luto por isso. No entanto não se trata de um desejo egoísta, onde eu me satisfaço em detrimento de todos os outros, mais sim de um desejo de que todos seres humanos, homens e mulheres, possam gozar de todas essas boas condições de vida, sem distinção de nacionalidade, etnia ou credo.Minha família é toda a humanidade. Então, qual ambição é maior?
E se ainda luto, mesmo sabendo que a vitória talvez esteja distante demais para uma única existência, lhe digo que o faço pois vejo que do ovo da Utopia nascerá não mais o abutre carniceiro que vive a roer a carne do povo, mas um outro mundo possível, que a cada dia mais é necessário, mais que não vêm sem luta.