quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O dia que Superman Chorou

Superman é herói
Protege a população.
Sai todos os dias às ruas
Bate em seus irmãos
Bate em sua mulher
Bate em seus filhos…

Superman tem peito de aço
Representa a lei e a ordem
E combate o crime
Rouba seus irmãos
Rouba sua mulher
Rouba seus filhos…

Superman é corajoso
Invulnerável e poderoso
Enfrenta qualquer um
Mata seus irmãos
Mata sua mulher
Mata seus filhos…

Mas um belo dia apareceu uma super-vilã na cidade
E com seus super-poderes
Tomou os corações e mentes do povo
Seu nome era Utopia!

Num passe de mágica e raios laser
O povo todo saiu às ruas
“Não precisamos mais de Superman
Juntos somos mais fortes!”

E nesse dia ele – que é herói,
Corajoso e tem peito de aço –
Mostrou também que tem
Coração de manteiga
Pois se escondeu de baixo da mesa
E chorou como criança…

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Carta à Frigga

Cara Frigga, mãe de todos os homens.
  
Se me neguei aos festins de Baltazar, não foi por desrespeito ou por mera rebeldia infundada.

Se o fiz, foi por que onde vês um palácio, vejo os que o construíram sem ter onde morar; bibliotecas onde quem às construiu mal sabe ler, roupas confeccionadas por quem não tem o que vestir; o agricultor esfomeado.

Onde vês salário, vejo um homem que trabalha e outro – que sem fazê-lo – rouba-lhe a maior parte dos frutos deste mesmo trabalho. Onde há um ladrão ou vagabundo vejo a fome e o desespero; Onde há o senhor, vejo escravos.           

Onde vês um fidalgo a usufruir de sua riqueza e dizes “ele trabalhou para isso” penso em todos os homens que se submetem – pelo menos oito horas por dia – a manter a riqueza deste. Estes não trabalham?

Onde há miséria, vejo injustiça; onde há governantes vejo oportunismo; Onde há o rico, vejo o miserável; Onde há boa vida vejo a morte.

Quando me dizes que não tenho ambição, pense no que dizes. Para você, um homem de ambição é aquele que almeja uma vida de abundancia, conforto e segurança para si e para sua família. Pois te digo que, de fato, luto por isso. No entanto não se trata de um desejo egoísta, onde eu me satisfaço em detrimento de todos os outros, mais sim de um desejo de que todos seres humanos, homens e mulheres, possam gozar de todas essas boas condições de vida, sem distinção de nacionalidade, etnia ou credo.Minha família é toda a humanidade. Então, qual ambição é maior?

E se ainda luto, mesmo sabendo que a vitória talvez esteja distante demais para uma única existência, lhe digo que o faço pois vejo que do ovo da Utopia nascerá não mais o abutre carniceiro que vive a roer a carne do povo, mas um outro mundo possível, que a cada dia mais é necessário, mais que não vêm sem luta. 

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Literatura de Bordel


Eu sou uma puta. Isso mesmo, uma puta!
Assim me criei, desde cedo, como uma puta suja, que se vende por qualquer trocado, por qualquer migalha.
Quando nasci meu destino já estava traçado. Mamãe tecia planos para meu futuro, queria-me uma boa cortesã. Para isso colocou-me nas melhores escolas, onde – junto a vários outros aprendizes – me ensinaram que não havia outra vocação para mim, me vender era a única alternativa digna a minha existência. Qualquer outra forma de sustento era, sem dúvida, um ultraje, uma heresia.
A juventude é sempre um prazer, e tão logo aprendi que o correto era adquirir um status de boa mercadoria, encaminhei-me para um bom curso superior. Mamãe e papai, que sempre foram boas putas, me ajudaram nesta caminhada. Direito, Publicidade, Medicina, pouco importava o curso, o essencial era ser sempre a mais vagabunda, a que se vendia mais e por mais barato.
Hoje sou a mais bela e requisitada prostituta da região. Cobro barato e faço um bom serviço, deixando sempre muito satisfeitos os clientes.
É claro que chegar onde cheguei não foi fácil, coloquei anúncios nos jornais, nas rádios, nos outdoors, na televisão, para que todos pudessem sonhar em viver um dia na High Society das meretrizes. Quanto mais sonhavam com isso, mais eu crescia.
Sou uma rameira. Vendo-me e faço vender. Algum problema com isso?
Somos todos putas. Expomos-nos em vitrines e nos entregamos ao primeiro rapagão que aparece com alguma ninharia. Fomos putas ontem e hoje. Será que ainda o seremos amanhã?
Tome um trocado!