Tempo. Tempo que nos persegue por toda a vida, o tempo todo. E o que refletimos sobre ele é muito pouco, quase nada.
Nosso tempo é cíclico, constante, repetido. São as horas do relógio, o dia e a noite, as quatro estações, um ano, uma era, e seu limite máximo é uma vida. Os acontecimentos repetem-se cotidianamente: festas, aniversários, datas comemorativas. Tudo marcado por uma constância perfeita, sempre igual, tudo gira, se move, revoluções ocorrem para que tudo volte a ser como era antes. O passado é história, no futuro mais do mesmo, e vivemos eternamente o presente.
Nosso tempo é dinâmico. Criamos ferramentas para encurtar o tempo: os trens, a internet, o macarrão instantâneo. Fazemos de tudo para que tudo demore menos. Assim temos a ilusão de que poderemos ter mais tempo dedicado a ir ao parque, ler livros, estar com a família ou compor uma obra de arte. Na prática passamos em média quatro horas de cada dia na frente da televisão.
Nosso tempo é ilusão. O tempo real é cruel, esmagador. Preferimos nos fechar em um tempo abstrato. Aqui as coisas são mais coloridas, são menos doloridas. Sacrifico o agora em nome do amanhã. No amanhã tudo é melhor e nada acontece. O amanhã que nunca chega. Sacrifico sonhos de um tempo de liberdade pela ilusão de um mundo futuro onde se consome mais do que posso consumir agora. Nessa ilusão permito-me ser consumido. A utopia da juventude morre comigo, em um passado de rebeldia não fundamentada, sou agora uma mera carcaça que se arrasta e produz mais e mais.
Nosso tempo é mercadoria. Vendemos, em média, oito horas deste diariamente para que possamos – nas horas restantes – consumir os frutos do tempo perdido, vendido. Consumimos o tempo como um giro acelerado de festividades. Festividades nas quais compomos paródias vulgares do diálogo e da doação onde mitos nos tencionam a despesas econômicas absurdas e promessas seguidas de decepção. O conforto de uma decepção é encontrado então na promessa de outra decepção. Festejamos em uma época sem festas.
Nosso tempo não tem mais tempo que não é produzir e consumir, é tudo um grande ciclo onde o real e ilusório já não mais se distinguem. É fundamental nos esquecermos que o mundo já possui o sonho de um tempo e que para vive-lo de fato, devemos apenas possuir consciência dele.
Boas festas!